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(Resenha) Para Sempre Ana


Sinopse: Na mística Três Luzes, o leitor percorre inicialmente três momentos afastados no tempo, onde três homens, de três gerações da família Rigotti, experimentam situações-limite pela influência de uma mesma mulher: Ana. A partir daí, a narrativa o leva a uma instigante viagem, nem sempre linear, entre meados do século XX e o início do XXI, na qual os dramas, o passado, o verdadeiro caráter e os segredos de cada personagem são pouco a pouco desnudados. A trama é conduzida pela busca de Ana e pela busca por Ana, forasteira misteriosa que abala os triluzianos e cuja trajetória se funde à dos demais em uma história carregada de luzes e sombras. A busca de Ana arrebata as emoções; a busca por Ana arrebata os sentidos. E ambas surpreendem. Sempre que tudo parece esclarecido, detalhes antes considerados sem importância provocam uma reviravolta geral na história. Até o último capítulo. Descubra se os mais atordoantes segredos de Três Luzes estão mesmo nos céus ou no fundo da alma de seus moradores.

Só a sinopse mostra que o livro é complexo, mas para mim "Para Sempre Ana" foi muito mais que isso.
Essa é a segunda resenha mais difícil que faço. Para explicar o que senti lendo o livro devo voltar aos meus anos escolares.

Todo mundo na infância e adolescência já foi obrigado a ler algum livro para fazer uma prova ou redação.
Antigamente eu não apreciava leitura. não era algo prazeroso, mas também não era uma tortura. Eu sempre encarei a leitura como uma obrigação para tirar notas e nunca como entreterimento. Mas comecei a odiar livros no colegial. Pois aos 15 anos conheci meus dois maiores carrascos: Minha professora de literatura e Machado de Assis.

Eu sei que tem gente que idolatra Machado de Assis, dizendo "Ele foi um ótimo romancista" "Criou a Academia Brasileira de Letras" Mas eu não vejo graça nas obras dele.
No início do meu ano letivo (1995) a professora passou uma lista com 5 livros que iríamos ler naquele ano:
Dom Casmurro, A  Luneta Mágica, Iaiá Garcia, Inocência e Contos de Machado de Assis.
Comecei a ler Dom Casmurro e não passei do capítulo dois. Não me perguntem o por quê não gosto? Simplesmente as histórias dele não prendem minha atenção.
Como não conseguia ler, decidi abandonar o livro. E esse foi o início de um trauma, que durou 16 anos.

No dia da prova oral a professora perguntou Por que não li? E eu fui sincera, disse que não achei graça no livro. Então a professora me passou o maior sermão. Para meu azar ela era fã doente. A mulher até me chamou de ignorante.

A partir dai, ela começou a me dar notas baixas em todos os trabalhos. Cheguei até a pensar que repetiria de ano. O bullying foi tanto que passei a odiar literatura.
Esse ódio me acompanhou até os 25 anos, quando encontrei a autora, que me libertou parcilamente - J. K. Rowling. Depois de ler Harry Potter meus olhos se abriram para os livros. Mas apenas para os estrangeiros. Quando alguém indicava um autor nacional só faltava eu mandar o coitado para aquele lugar.

Não lia livros nacionais, porque eu achava que iria encontrar Machado de Assis nas páginas, ou pior a voz da minha professora.
As coisas começaram a mudar quando decidi me tornar escritora. Em 2009 publiquei meu 1º livro e então comecei a procurar autores nacionais, e não foi fácil.

Eu ia as livrarias, mas não encontrava autores nacionais nas prateleiras, sempre os autores estrangeiros, ou os livros de auto-ajuda do Augusto Cury (Outro autor que não aguento).
Já que nas livrarias não dava em nada, decidi procurar no Clube de Autores. Mas para meu azar, comecei a ter problemas financeiros, que duraram 2 anos. Apenas no ano passado voltei a ter grana e comecei a  comprar e logo de cara já tinha um livro em mente "A Rosa entre Espinho" de Josiane Veiga. Li o livro e amei, mas apesar da autora ser brasileira, a história não se passava no Brasil, então eu "tecnicamente" li um livro estrangeiro.
Li outros livros, mas as histórias não se passavam aqui, ou o local não era mencionado. Mas com "Para Sempre Ana" seria diferente. Era um livro nacional, de um autor nacional, a história se passa no Brasil e os personagens são brasileiros.

Confesso que li as primeiras 28 páginas com receio. Aquele trauma rondando minha cabeça. Mas algo mágico aconteceu, as páginas foram passando, os capítulos também, e quando dei por mim, estava envolvida com a história. Uma história digna de detetives, quando você pensa que descobriu a verdade, aparece outra revelação. A trama faz o leitor pensar e ler com atenção.

No começo eu pensava que Carlos era o canalha e Ana a coitadinha. Depois comecei a cogitar que Ana poderia estar de complô com uma ex-namorada do pai de Carlos, e que tudo era um plano de vingança. Então a mesa vira e Ana vira a vilã, a golpista, amante do pai de Carlos e ele o coitado.
Você fica o tempo todo assim, como cego em tiroteio. Só esperando o que vai acontecer.

Agora vamos aos personagens:

Embora Ana tenha uma história triste, não consegui sentir simpatia por ela. Eu a achei meio doida. Ela é obcecada em ter uma família e nem percebe que está destruindo uma. Minha antipatia por ela deve-se ao fato, de que eu não consigo entender o que leva uma mulher a se envolver com um homem casado. Por mais que o cara seja infeliz com a atual esposa, nunca vai abandoná-la pela outra. E quando abandona, logo faz o mesmo com a ex-amante. Pois a amante de hoje será a mulher traída de amanhã. E isso é fato.
Mas existe um lado positivo em Ana. Ela pelo menos tenta reparar seus erros. O que o faz até o fim.

Carlos é o azarado, quando as coisas parecem melhorar algo aparece.

Cris, só tenho uma coisa a dizer bobeou, dançou.

Cláudia - Minha favorita - Eu também desconfio de tudo e de todos.

Márcia, não sei bem o que dizer dela. Uma hora gostei, outra odiei, e no final fiquei em dúvida.

Caio, esse foi persistente.

Outro detalhe interessante (Para mim) é o quanto os personagens me lembraram de coisas que aconteceram com a minha família. principalmente Marília, ela me lembrou um pouco minha mãe, pois ela tinha um relacionamento difícil com a minha avó (Uma mulher casca grossa).
Enfim, eu poderia escrever e escrever e nunca acabaria. Afinal o livro me encantou.

Agora posso dizer que estou curada do meu trauma. Depois de 16 anos fiz as pazes com os livros nacionais.

Comentários

  1. Uau, que resenhaaaa.. e obrigada pela citação.
    Sei como se sente, tambem sofri nas mãos de uma professora ... ate que um dia que viajei com o colegio e, durante o tempo no hotel, a flagrei indo pro quarto de um professor casado. Dali em diante, POR MILAGRE, ela parou de me chamar de pobre (eu era bolsista), ignorante, burra, etc.
    Enfim, naquela epoca Bullyng não era algo tratado na midia.. então, ate hj, tenho aversão a fisica e a fisicos. Cheguei ao ponto de parar de falar com um amigo enquanto ele fazia essa faculdade...

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  2. eu também tinha esse problema de achar que encontraria Machado de Assis em todos os livros nacionais ahhuhaehueau acho que isso é muito comum...só comecei a gostar um pouco mais de livros nacionais por causa da Josy XD

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  3. De nada, Josy. Eu adoro os seus livros. Ontem comprei Rendição. Agora é só esperar ele chegar.

    Aoyagi, junte-se ao clube.
    Só depois de conhecer os livros da Josy comecei a botar fé nos livros nacionais. E agora que li Para Sempre Ana tenho mais certeza.

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  4. O unico problema é que livros nacionais são caros XD

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  5. Putz, nada pior do que um professor que consegue destruir a vontade de ler e aprender de um aluno. E ainda existem exemplares desse tipo nas escolas.
    Ainda bem que você conseguiu superar!
    Para Sempre Ana também me encantou!
    O Sérgio foi brilhante na construção dos personagens e no andamento da história!
    Beijos
    http://giselecarmona.blogspot.com/

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  6. Oi, Aoyagi.
    Existe uma razão para os altos preços dos livros nacionais: a baixa tiragem. E existe um motivo para a baixa tiragem: a falta de procura por parte dos leitores, que só valorizam o que vem de fora. Pois é! Isso é um círculo vicioso. A partir do momento em que os leitores passarem a valorizar e comprar os bons livros nacionais, a tiragem deles aumentará e o preço diminuirá.

    Catalina,
    muito bacana a maneira como você construiu seu texto, uma mistura de resenha, história de vida, crítica à didática escolar rs (que eu, aliás, já havia feito em uma entrevista que dei a um blog)... Gostei de saber como você enxergou os personagens. E uma coisa me chamou a atenção, justamente no dia em que eu tinha comentado a respeito com a Luzia (para quem ainda não sabe rs, esposa e colaboradora do meu blog): eu já li dezenas de resenhas do livro Para Sempre Ana, mas ninguém jamais sequer tocou no nome da Marília. E ela tem uma grande importância na estória.

    Fiquei em dúvida se mencionar o amante casado de Ana seria um spoiler grave, mas a Luzia logo me disse que não rs, até porque nem foi citado o nome do dito cujo :-) Bem... Em suma, o texto ficou muito legal, Catalina. Não por elogiar ou criticar o livro, mas pela forma criativa como ele foi elaborado.

    Gisele e Josy, obrigado também a vocês pelas palavras (aqui e em outros blogs).
    Bjs.

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  7. Cat, espero de coração que curta rendição - e não fique chocada.

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  8. Josy, eu não me assusto facilmente. Eu acho que vou curtir.

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